sábado, 20 de setembro de 2008

aqui vejo os outros longe


"Hi-Fi" - Ricardo Newton



Escrito numa quinta à noite no sujinho.

aqui vejo os outros longe, longe de mim, independentes de mim, existentes sem mim. e isso é assustador e é lindo. lindo porque é o real, o real que é imaginado. o real imaginário. meus amigos estão lá, falando com outras pessoas. é como se eu estivesse olhando do além e isso é uma coisa metafísica, sem limites. como memórias póstumas.
quando o amor vai embora o que resta é beber.
aqui, com algumas pessoas conhecidas, eu vislumbro o sentido da vida: o outro que se conhece e que te conhece. é o outro que te protege do fracasso da existência. é o outro que te evita de cair no vazio da incompletude. é o outro que te faz perceber a finitude de si e a infinitude da finitude ali mesmo. é o outro. Mesmo falando merda, nada com nada. mesmo a beleza sendo só um acessório! é o outro que propicia o sentido dado por você. sem o outro não há sentido.
“eu já vi mulheres de coxão e de braço fino”
“pega na minha e balança”
é isso que importa.
“eu pego ela. o que importa é ninguém saber”
a interação entre homem e mulher é muito engraçada. o caminho tortuoso é o mais legal porque o que importa é o caminho e o caminho tortuoso é o mais longo.
"cadê o dono do isqueiro?" Eu sou um ser alheio à espécie humana.
“se você quer você pega”. aposto que sim.
“eu adoro as noites de quinta porque eu vou trabalhar mal na sexta. Todo boêmio há de ser funcionário público”.
o que importa é o amor. amor na verdade é a relação. em meio a toda essa finitude o que importa é o amor. o amor é que estende o tempo.
a memória vem, memória que configura a alma. a alma que é o passado e que é tudo. e tão linda. as almofadas voando. os netos brincando com as almofadas. a televisão mal pega. a vida. as pessoas ainda vivas. essa é a eternidade. tão linda. e tão fatalmente inexistente. e por isso linda. essa é a eternidade viva. nunca vai morrer. nunca porque é linda. o importante é o momento. aquele infinito.

4 comentários:

Dionísio de Oliveira disse...

p.s.: eu estava ligeiramente bêbado

Pigmaleão Inalado disse...

Parece-me que as coisas que você escreveu aqui e que tão logo são afundadas por ti na autoria da bebida têm respiração curta: não podem permanecer por muito tempo no fundo do copo, ou do corpo. Elas são mais leves que esse líquido, e portanto beijam o ar. E sendo mais leves que o ar, se abraçam com o pensamento. E escapando do pensamento, esbofeteiam o espírito - seja lá o que isto seja.

É atingindo o íntimo que as palavras marcam, e é ali que finalmente as tuas respiram, triunfantes.

Um brinde ao fracasso da existência. Agradeçamos à sua navalha que todos os dias, no fim da tarde, rasga a nossa carne e nos faz lembrar que existimos. Agradeçamos a ele por gentilmente nos permitir gritar.

Lorelei of the sea disse...

Um brinde!

JacqSR disse...

Amigo, se ao escrever isso, tu tava bebado...
beba mais entao maldito!rs
...e nos delicie com suas palavras libertas=)