sábado, 29 de novembro de 2008

Lobos por Fabio Rocha



E a coruja observa.
Na calma noite fria
Ela, quieta, espia.

Cai a neve molhada
Sobre cada pegada
Do menino sozinho.

Uivos se ouvem longe.
E a lua se enche
De um medo absurdo.

O pequeno caminha.
Vai alheio a lua
E a sorte sua.

Os lobos se aproximam.
Os caninos cintilam.
O rosnar é só um.

O maior é cinza.
Devagar, se aproxima
Do garoto parado.

O rapaz se ajoelha.
Calmamente, sorri.
Há algo errado ali.

O animal nada entende
E como se fosse gente,
Certa pena sente.

É então que o lobo
De olhos amarelos
Se deixa acariciar.

E o menino, devagar,
Um galho caído no chão
Se põe a pegar.

Seu grito é sobre-humano,
Ao atingir o lobo no crânio.

Corre a alcatéia apavorada,
E a criança tem sua fome saciada.

A coruja olha displicente
O garoto partindo, na paisagem inerte.
Nem triste, nem contente.

sábado, 8 de novembro de 2008

Descanso...

Sabe de uma coisa? Está na hora de sentar debaixo da árvore e relaxar...

Corri sempre e tanto, que estou muito cansada!
Cansada de ter sido sempre gente grande quando deveria ser criança e acabei nunca sendo!
Cansada de ter sido sempre responsável quando deveria ter metido o pé na jaca e acabei não o fazendo a quantidade de vezes necessária!
Cansada de segurar a onda quando deveria ter me deixado afetar e acabei me afetando muito mais que o necessário!
Cansada de pensar nas conseqüências e parar antes de começar!
Cansada de ser velha e chata quando deveria ser nova e inconseqüente e acabo não me deixando ser!
Cansada...

Pra que correr? Vou chegar antes de quem? Estou fugindo do que?

Ah! Cansei!

Estou me sentando debaixo desta árvore e vendo a tartaruga se aproximar... É ela quem acaba vencendo a corrida, não é mesmo?
Ela que anda a com calma... Curtindo seus passos. Cada um. Cada momento.

É... Parei de correr!

domingo, 2 de novembro de 2008

A queda - Albert Camus

"... Não sabia que a liberdade não é uma recompensa, nem uma condecoração que se comemora com champanha. Nem, aliás, um presente, uma caixa de chocolates de dar água na boca. Oh, não, é um encargo, pelo contrário, e uma corrida de fundo, bem solitária, bem extenuante. Nada de champanha, nada deamigos que ergam sua taça, olhando-nos com ternura. Sozinhos numa sala sombria, sozinhos no banco dos réus, perante os juízes, e sozinhos para decidir perante nós mesmos ou perante o julgamento dos outros. No final de toda a liberdade, há uma sentença; eis por que a liberdade é pesada demais, sobretudo quando se sofre de febre, ou nos sentimos mal, ou não amamos ninguém."

(...)

"Então, planando em pensamento por cima de todo este continente que me é subordinado sem saber, bebendo a luz do absinto, que se eleva, ébrio, enfim, de palavras más, sou feliz, estou lhe dizendo, proíbo-o de não acreditar que sou feliz, que morro de felicidade! Ah, sol, praias, e as ilhas sob os alísios, juventude cuja lembrança desespera!"

(...)

"A minha solução, com certeza, não é a ideal. Mas quando não amamos a nossa vida, quando sabemos que é preciso mudá-la, não temos escolha, não é? Que fazer para ser outra pessoa? Impossível. Seria preciso já não sermos ninguém, esquecermo-nos por alguém, uma vez pelo menos. Mas como? Não me confunda muito."

Caminho de bêbado



ORIGEM: Pista 3, Botafogo.
DESTINO: Qualquer lugar onde passasse um 415.
HORÁRIO: 04:00 AM
CAMINHO VERMELHO: O que fiz.
CAMINHO AZUL: O que deveria ter feito.

Gustavo: - "Cara, acho que a gente vai bater lá na lagoa".
Pereira: - "Que nada! A gente tá na Urca!"