sábado, 21 de novembro de 2009

"O de ontem e o de hoje"

Eu acordei hoje lembrando daquela cena
(bem posso morrer dizendo que o filme é ruim, mas isso não se relaciona com o que eu quero dizer) do Watchmen, onde tudo se destruía, mas tudo o que se ouvia era Unforgetable.
Acho um charme essa alternativa de se levar a vida, sabe?
Você vê que seu mundo se despedaça, está consciente disso e segue...No regrets, man!
Você nunca foi tão bonito dormindo desde o dia que eu te perdi...
E nunca foi tão ruim não poder enrolar na cama...
And I feel like I could write a thousand of letters and you’ll never get tired of reading them, because you know that I’m a such good writer and I know how to touch you and make you feel embarrassed.
Depois de ontem, puts, watch me forget about missing you, baby.
There’s something you should learn I’m a good liar as well as I’m a good writer…did you never realize that?
Eu fiquei com uma vontade de parar o mundo…
De sei lá...
Voltar no tempo?
Não, eu não sou tão perdedora assim...
Era mais algo como:
So what game shall we play today?
How about the one where you don't get your way?
(Tá aí uma coisa que o Jamie Cullum sabe fazer, músicas que me movem)
Vou confessar que enrolei para voltar para casa...
Tudo fluiu para curtir a rua movimentada e esquecer o que não se passava mais na minha casa...
Mas a única coisa que ficou de verdade foi aquela sensação...
Lembra que já disse que só Deus para saber que amor não é mais para mim?
Então...
Falling out, making up
It seems such a silly game
Why do I never gain?
Eu começo a entender porque,
As coisas fazem muito mais sentido,
Afinal a dor é minha,
Ninguém além de mim para falar dela, cuidar dela,
Não fugir, nem espantá-la...
Eu sempre cresci muito mais na tristeza que na alegria mesmo...
Então a gente fica de se ver na saúde e na doença,
Enquanto você chora pelos meus belos jogos de palavras,
sempre plenos de sentimento.
Na divisão você pode levar meu sorriso,
Eu fico com garrafas cheias e a cama vazia...
Um dia eu descubro para o que elas servem.
(21-11-2009)

domingo, 15 de novembro de 2009

O meu sentir

Erm?

Eu?

O que eu sinto?

Ah, sei lá,

Eu tenho uma carapaça muito forte,

pelo menos eu costumava ter,

ultimamente eu choro com snoopy,

na real não tem um filme sequer que eu possa ver sem choro.

Sem querer, só sintonizo em filmes e séries de amor...

E ah, só Deus sabe como eu acho que isso não é mais para mim.

Eu até tenho curtido ir ao cinema segunda à tarde,

Ter aquelas horas com você mesmo é até saudável.

Mas o que eu tenho odiado é a quantidade de casais felizes

Em uma mesma rodoviária,

Tenho a sensação de que só se viaja em casal nessa cidade,

Parece pré-requisito

E como isso é um saco!

Mas de tudo isso eu acho até graça...

As coisas começam a me estranhar

Quando eu estou na minha, lendo uma revista

E o artigo é do orientador dele

Ou quando eu vejo um céu azul e lembro

Ou escuto Alanis sem querer

Ou aquela maldita música da Beyoncé

Ou uma paisagem que eu dividiria a visão...

Blargh...bullshit...

Vai fazer um mês que estou assim,

Tentando reeguer,

tentando rir

enfim seguir,

but I suspect I’m not moving on…

Parece que me doei tanto

que na hora de dividir os bens

eu não me importei de deixar a felicidade com ele.

I miss his family,

I miss him,

Actually I miss myself.

Eu me dei conta esses dias

Que por quase um ano eu vivi uma mentira

E eu nunca me senti tão confortável

Ou quis tanto me manter em um lugar como esse antes...

As ligações? Não mais as faço...

Os xingamentos cessaram,

A vontade de mandar mensagens sumiu

de uma forma que eu não percebi,

mas a falta? Bem essa não passa...

estou agarrada nela

em direção a pior evolução que eu poderia ter:

o nada sentir.

Hannah Sur (Minerva Aerada)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ATEUS

A dor que se instaura na perda
é a dor da falta?
Sinto o seu ir sem despedir,
sinto o seu despedir como mentira.
Sinto que tanta coisa
toca o tom da mentira.
Chão sugado
e a única coisa que me resta
de verdade
é a dor na qual me agarro.
Foi o que sobrou
diante do vácuo no buraco negro
do meu espaço.
As lembranças não param,
não cessam em abrir feridas.
A música da mentira toca
no meu quarto
toda noite
em imenso descompasso
de meu "até"
e seu "adeus".
Entremos em acordo
unidos no uníssono ATEUS
e assim se esvai...

sábado, 15 de agosto de 2009

Buscas em um abismo



- Como foi o final das suas buscas?

- Igual a um filme blockbuster
o filme terminou, mas você tem a certeza de que vai ter uma continuação...
por mais desagradável que tenha sido o filme.

- Eu vou fazer a minha busca essa semana.

- Então... reserva dinheiro para sorvete e chocolate, ein.

Sabe no Harry Potter?
Sempre que ele enfrenta um dementador ele fica meio mal, né?
E o chocolate o ajuda a se recuperar, né?

Então... o dementador faz parte da pessoa em busca,
você se defronta com seus maiores medos e desafios, eles correm à tona,
vindo por trás e te assustando quando você menos espera.

O chocolate pode ser o doce, que é muito bom e gostoso, ou os seus amigos que podem te ajudar...
como uma tábua encontrada em meio a um oceano de possibilidades atordoantes.

Decisões corajosas e heróicas são tomadas em algum momento,
e o que te segura é alguma lembrança muito boa,
ela te da forças e você anda mais um pouco
mesmo quando imerso num lamaçal de incertezas e dúvidas.

O caminho a sua frente é como uma casa de espelhos maluca...
é tortuosa, faz você se perder e duvidar sobre suas decisões
ou se você é capaz decidir algo.

E para sair tem de confiar em você...respirar fundo
seguir e sentir, sem saber bem como, o ar fresco que te levará para algo melhor.

Já olhou para um abismo?
o abismo é algo engraçado,
quando você olha por muito tempo para ele ele começa a olhar para você.

Digo abismo, como este sendo o universo interno de cada um.

Na busca você se sente atraído, cativado a descer e explorar...
e você sabe que é um abismo.

Que a descida é dolorosa e árdua...
mas você quer e sente necessidade disso.
Contudo o que te surpreende é o mundo fantástico que você percebe enquanto desce.
cada momento, traço, sensação... todos únicos.

Um mundo de elementos a muito esquecidos ou nunca vistos.

Você não chega ao fundo,
não tem como chegar pois ele sempre está um pouco mais distante do que você imaginava.
Sempre há algo que te faz sentir e saber que o fundo não é o que você vê nesse momento,
que ele pode ser muito, mais muito maior.

E aí você sobe,
você escala com coração na boca e sentimos a flor da pele...
você sobe pois alcançou algo, não necessariamente algo que deseja.

Mas algo.

E você sobe, sobe da forma que conseguir
e do jeito que aguentar.

Pensa até em ficar por lá...
mas, percebe que estar sozinho faz parte do abismo e de coisas que lá habitam...
habitam sozinhas apesar de juntas.

E percebe que escrveu demais e não há mais ninguém prestando atenção
rararara

domingo, 9 de agosto de 2009

Unforgiven III do Metallica

Como ele poderia saber que esta nova luz da alvorada
Mudaria sua vida para sempre?
Zarpou pelo mar, mas teve o curso desviado,
Pelas luzes de um tesouro dourado.


Era ele o causador da dor,
Com o seu sonho negligente?
Teve medo,
Sempre com medo...
Das coisas que ele está sentindo.
Ele simplesmente poderia ter ido.

Ele apenas continuaria a navegar.
Ele apenas continuaria a navegar.

Como posso estar perdido,
Se eu não tenho lugar para ir?
Procurei pelos mares de ouro,
Como isso ficou tão frio?
Como posso estar perdido?
Em memória eu revivo...
Como posso te culpar,
Quando sou eu quem não consigo perdoar? (coro)

Esses dias vagam dentro na neblina,
Ela é densa e sufocante.
Esta busca por vida fora de seu inferno,
Intoxicando por dentro.
Ele encalhou,
Igual a sua vida,
A água é rasa demais.
Afundando rápido
Com o barco
Desaparecendo nas sombras agora,
Um náufrago.

A culpa
Toda foi
Embora!

A culpa foi embora!

(coro)

Perdoe me...
Não me perdoe.
Perdoe me...
Não me perdoe.
Perdoe me...
Não me perdoe.
Perdoe me...
Perdoe me, por que eu não posso me perdoar?

Alçou velas em direção do mar mas foi arrancado do curso,
Pela luz do tesouro dourado.
Como ele poderia saber que esta nova luz da alvorada,
Mudaria sua vida para sempre?

(coro)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Para sempre na Terra do Nunca

Quando minha luz se apagar,
que haja ao menos um para bater palmas em seu lugar.
Minha salavação não depende mais de ti.
Não posso deixar que dependa.
Nem por isso preciso
ou desejo
que algum pirata te elimine.
Me basta a capacidade de entender
que eu não sou para você
o que você é para mim.

sábado, 2 de maio de 2009

Trecho de For Whom the Bells Tolls por Ernest Hemingway

“No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were. Any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee”.


“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Em teus braços

Quero correr ao teu encontro.
Me jogar em teus braços.
Deixar que meu corpo alcance
a mesma temperatura tua,
Enquanto me carregas para longe.

Que nosso encontro marque
o fim do meu tormento,
Que traga a luz,
A paz,
O sossego.

Que a calma se espalhe.
Que todos os outros desapareçam.
Que o som se esvaia.
Que os odores sejam leves.

Seria um pôr-do-sol alaranjado
Ou uma chuva forte
Aquilo que melhor combinaria com teu colo?

Será que você é capaz de me afagar?
Será carinhosa e delicada?
Ou será cruel e impiedosa?
Será o fim do sofrimento?

Há muito que te olho,
Mas temo o real de tua eternidade.
Não sei se estou pronta para o teu abraço.
Quando te vejo,
Ainda corro para o outro lado.

domingo, 12 de abril de 2009

Autor? Desconhecido ou a preguiça o tomou antes de assinar


Ode à preguiça

Estou mesmo sonolento
Estou com uma grande pedrada
Só sei que neste momento
não me apetece fazer nada

Enquanto carrego esta cruz
de sonolência e maçada
O que vale é a falta de luz
que ajuda à cowboiada

Com tarefas por desenvolver
e sem luz nem vontade
Quem diria que quadras fazer
me acordava nesta tarde

Para variar o inútil
é aquilo que mais me apanha
Passe um dia, passe mil
não consigo largar esta manha

Assim encontro o meu alento
a puxar pelas rimas
Quando acabar este testamento
mostro-o a amigos, colegas e primas

Nos corredores não vejo gente
estará tudo a trabalhar?
Mas sou só eu sem corrente
ou alguém partilha o meu azar?

Procrastinação forçada
tem o seu "quê" de engraçado
Mas quando se trata de fazer nada
não me sinto nada forçado

Passam-se os minutos
e o raio da luz não aparece
Isto teve piada a brutos
mas agora também já me aborrece

E eis que de surpresa
surge a luz em velocidade
E em tudo o que é mesa
regressa a normalidade

A partir deste momento
tenho o trabalho de novo à espera
Volto a ficar sonolento
e a preguiça de sempre impera!

sinto-me: Sonolento

sábado, 11 de abril de 2009

¿Por que te vas?

Hoy en mi ventana brilla el sol
Y el corazón, se pone triste
Contemplando la ciudad
Por que te vas

Como cada noche desperté
Pensando en ti
Y en mi reloj todas las horas vi pasar
Por que te vas, por que te vas

Todas las promesas de mi amor se irán contigo
Me olvidarás, me olvidarás
Junto a la estación hoy lloraré igual que un niño
Por que te vas, por que te vas

Bajo la penumbra de un farol
Se dormirán
Todas las cosas que quedaron por decir
Se dormirán

Junto a las manillas de un reloj
Esperarán
Todas las horas que quedaron por vivir
Esperaran, esperaran

Todas las promesas de mi amor se irán contigo
Me olvidarás, me olvidarás
Junto a la estación hoy lloraré igual que un niño
Por que te vas, por que te vas
Por que te vas, por que te vas
Por que te vas, por que te vas
(Jose Luis Perales)

domingo, 29 de março de 2009

De uma amiga para o chopin


" Deus... Eu vos peço sabedoria para entender um homem, amor para perdoá-lo e paciência pelos seus atos, porque Deus, se eu pedir força, eu bato nele até matá-lo. "


"Todas as mulheres já ficaram com um cara comprometido, já pegaram um menino mais novo, já beijaram um homem que a amiga gostava e já amaram um cafajeste. Todas as mulheres já tentaram resistir, mas não conseguiram e, se conseguiram, se arrependeram. Todas as mulheres já pensaram em negar, já juraram dizer "não" pra sempre e o 'pra sempre' terminava na próxima vez em que se viam. Todas as mulheres um dia já pegaram um cara feio, já terminaram por opiniões de amigas e já apontaram pra um cara gato e falaram: "Aquele ali eu já peguei!". E toda mulher tem um amigo colorido e um amigo gay. Sabe por quê? Porque também somos seres humanos e também temos hormônios e sentimentos. Também temos um reserva e também gostamos de provar os de fora. Nós também podemos ver a beleza em alguém quando estamos bêbadas, podemos negar que pegamos algum cara, podemos falar que já levamos vocês pra cama.
Nós somos mulheres!"

terça-feira, 10 de março de 2009

O clima

Minha mãe sempre me dizia que de alguma forma eu influenciava o tempo.
Quando bem pequena, acreditava nisso cegamente.
Quando um pouco maior, desconfiei.
Quando maior, concluí que crer que tinha tal poder era absurdo.
Há pouco, percebi que era mesmo muita coincidência os raios e trovões acompanharem minha ira; assim como a chuva o pequeno pranto; o calor com o incômodo; o sol prazeiroso com a necessidade de renovação... Mas deveria ser apenas coincidência mesmo.
Hoje, decidi que, por mais absurdo que seja,
minha mãe estava certa.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Rejuvenescendo...

Não sei direito...
Bateu uma bad hoje.
Me dei conta que não saía de casa desde de sábado.
Nem pra ir à padaria.
Nem nada.
Então me arrumei e fui ao cinema.
Sozinha.
Uma terça-feira encalorada de Fevereiro.
Um dos últimos cinemas de rua do Rio.
Na sessão das 17h20.
Havia somente velhinhos.

(Em Copacabana tem a maior concentração de velhos e cachorros do planeta!)

E fiquei sentada observando os velhinhos.
Era como se o filme já tivesse começado.
Cheguei até a escrever alguma coisa sobre 8 deles.
3 senhores que sentaram formando um triângulo em 4 fileiras.
E14, F12 e H15.
Os três sozinhos.
O mais próximo de mim checava e-mails em seu i-phone da apple.
hehehhe...
Confesso que achei engraçado, ainda que fosse o mais jovem dos três.
Eu mesma não tenho a menor intimidade com essas tecnologias...
Talvez um dos traços da minha própria velhice.
E o mais distante pingava colírio nos olhos.
Provavelmente um astigmatísmo, ou algo do tipo.
Todos os velhos são doentes.
Como eu.

Na mesma fileira que eu, mas na outra metade da platéia,
duas velhinhas cochichavam e abanavam seus leques.
Por mais que ar condicionado estivesse congelando a sala quase vazia.

Mais atrás
Três velhinhas, muito arrumadas
e que falavam alto
Como adolescentes histéricas!
eheheeeh...
E é bem provável que de fato fossem.

Na mesma fileira que eu... uma coroa e sua avó.
Não há muito o que falar das duas.
A avó era mesmo bem velhinha.

E o filme era The Curious Case of Benjamin Button,
que conta a vida de um homem que nasceu velho e foi ficando jovem.
Talvez como eu.
Ao menos é uma esperança crer que posso rejuvenescer.

Tinha tanto de mim no filme que nem sei explicar.
Não exatamente os fatos do decorrer do filme,
mas o sentimento por trás dele.

Chorei tanto que quando acenderam as luzes eu estava com vergonha do meu rosto inchado
e levantei o mais rápido que pude,
sem olhar pra ninguém...
Praticamente fugia em direção à praia,
enquanto pensava se poderia ligar pra alguém que me desse um colo,
ou me animasse,
ou me fizesse pensar em outra coisa que não fosse eu mesma e minhas questões.
Talvez as mais antigas e pesadas delas.
Enfim...
Que me ajudasse a fugir de mim!

Ninguém pra ligar!

Fui chorando pelo calçadão.
Entrei numa rua já perto de casa.
Passei no mercado.
Meu cereal acabou.
As lágrimas também.

E voltei pra casa.
Lá não encontrei conforto algum,
como suspeitei que não encontraria.

Nada.

Ninguém...

Só isso...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Um velho conhecido

Nesta manhã, sentada no sofá, enquanto terminava meu café da manhã, um sentimento sufocante tomou conta de mim. Não podia me mexer, o sentimento me paralizava. E era insuportavelmente familiar.
Me levantei bruscamente, como se assim pudesse expantá-lo. Ele ficou mais forte e trouxe uma dor de cabeça igualmente familiar.
Era uma vida tão jovem, mas recheada de enfermidades. Dores de cabeça e na coluna, enxaquecas, pressão baixa, bronquite, labirintite, enjôos, uma crise renal e, a mais recente, gastrite. Além de um desconforto, uma insatisfação, uma falta que passo a julgar como inerente ao ser humano.
Uma aspirina para a dor.
Ao menos a dor de cabeça melhora, enquanto o desagradável sentimento aumenta.
Um velho conhecido que há muito não me visitava. Fora um amigo, um companheiro, mas há muito já não era mais do que um desconforto.
Pedi que se afastasse de mim há exatos três anos.
Bem verdade que o maldito ainda me visitou algumas vezes ao longo desses anos. Mas ultimamente andava sumido. E esse desaparecimento me permitiu noites de sono e dias de paz. Ok. Nem tanta paz assim. Foi mais uma busca constante. Uma incompletude desnorteada.
Náuseas.
Nenhum copo de água para outro comprimido.
Ai, se houvesse um comprimido... Algo que eu pudesse tomar e dissolver esse sentimento... Não me diga "Eu te avisei!"... Sei que está na ponta da sua língua, entre seus dentes, seguro em um sorriso disfarçado no rosto com sombrancelhas arqueadas. E ao se sentir notado, vai ajeitar os óculos sobre o nariz e o olhar vai se desviar por um segundo, como se assim eu não pudesse ler seus pensamentos.
O que você está pensando?
Agora o meio sorriso saiu dos seus lábios e veio de encontro aos meus.
Esse sentimento que até agora evitei descrever... É tão familiar...
Ele é uma mistura de saudade, dor, desejo, certeza, dúvida, prazer, esperança, raiva, descrença, carinho, desconforto, abrigo, amizade, paixão, impossibilidade, solução... e essa maldita familiaridade!!! Tudo isso nas doses mais variadas.
Ele é tão confuso e tão claro...
Tão desagradável e tão bonito...
Tão incompreensível... Tão meu...
Será tarde demais?
Qual foi a receita que você disse usar para não se apaixonar?
Funciona?
Me ensina...
Esse sentimento combina com os romances mal escritos de banca de jornal... Ele não serve pra vida real! Simplesmente não é prático!
Quando ele se fortalece toma conta de você. Se taorna capaz de lhe paralizar e te empurra em direções arriscadas.
É uma delícia...
É um veneno...
Não me olhe assim...
Prefiro o "Eu te avisei!" de antes.
Ao menos o seu ar de superioridade é sexy...
Isso...
O meio sorriso voltou aos lábios...
Mais uma ajeitada nos óculos sobre o nariz...
Mais um desvio de olhar...
...
Prefiro assim.
Como se pudéssemos controlar.
Como se não soubéssemos o que acontece.
Como se fosse brincadeira.
Como se esse sentimento não me assombrasse.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O barco

Olha o barco, meu bem, lá no fundo. Onde? Lá onde a terra há de comê-lo, lá no fim dela, onde começa o sem-fim do mundo. Ainda não posso ver, bem. É que pra isso tens que fechar os olhos assim. Assim? Exato. Agora vês a sombra que projeta na água? Vês a cor ocre de suas madeiras escuras e limosas, ouves suas velas a mastigar o vento e cuspir andanças? E olha as pessoas lá dentro, amor. Suas bocas de esforço, suas cores, suas peles luminosas de sol, seus braços controlando as cordas e o timão, as vontades brancas luzindo as caras, lembranças dum amanhã enternecido adentrando robustos esposas deixadas nas casas, mulheres, lascivas criadoras de filhos chorosos cheirosos a banho. Mulheres, a razão de estarem ali longe, longe delas. Olha, agora recolhem as redes. E o que pescam, querido? Pescam sonhos. Pescam sonhos de mundo, sonhos meus e seus, sonhos de ninguém. Pescam a casa do projeto, o filho que teremos, pescam nuvens, pescam morte. Mas sobretudo pescam mulheres. Sobretudo pescam mulheres.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sociedade do Espetáculo (trechos) Guy Debord

"No mundo realmente invertido, o verdadeiro é um momento do falso."

"...a realidade surge no espetáculo, e o espetáculo no real.
Esta alienação recíproca é a essência e o sustento da sociedade existente."

"Onde o mundo real se converte em simples imagens,
estas simples imagens tornam-se seres reais e motivações
eficientes típicas de um comportamento hipnótico.
O espetáculo,
como tendência para fazer ver
por diferentes mediações especializadas o mundo
que já não é diretamente apreensível,
encontra normalmente na visão o sentido humano privilegiado
que noutras épocas foi o tato"

"O consumidor real toma-se um consumidor de ilusões.
A mercadoria é esta ilusão efetivamente real, e o espetáculo a sua manifestação geral."

"O homem alienado daquilo que produz,
mesmo criando os detalhes do seu mundo, está separado dele.
Quanto mais sua vida se transforma em mercadoria, mais se separa dela."

"O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a própria sociedade e seu instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, o espetáculo concentra todo o olhar e toda a consciência. Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido e da falsa consciência; a unificação que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da separação generalizada."

"A prática social, diante da qual surge o espetáculo autônomo,
é também a totalidade real que contém o espetáculo."

"Assim, toda a realidade individual se tornou social e diretamente dependente do poderio social obtido. Somente naquilo que ela não é, lhe é permitido aparecer."

"Nosso tempo, sem dúvida... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.

Feuerbach"

ps.: Só pra passar pre frente algo q me fez refletir e que pode fazer outras pessoas pararem para refletir... ou não rarararara

Tango do Covil por Chico Nuarque


Ai, quem me dera ser cantor
Quem dera ser tenor
Quem sabe ter a voz
Igual aos rouxinóis
Igual ao trovador
Que canta os arrebóis
Pra te dizer gentil
Bem-vinda
Deixa eu cantar tua beleza
Tu és a mais linda princesa
Aqui deste covil

Ai, quem me dera ser doutor
Formado em Salvador
Ter um diploma, anel
E voz de bacharel
Fazer em teu louvor
Discursos a granel
Pra te dizer gentil
Bem-vinda
Tu és a dama mais formosa
E, ouso dizer, a mais gostosa
Aqui deste covil

Ai, quem me dera ser garçom
Ter um sapato bom
Quem sabe até talvez
Ser um garçom francês
Falar de champinhom
Falar de molho inglês
Pra te dizer gentil
Bem-vinda
És tão graciosa e tão miúda
Tu és a dama mais tesuda
Aqui deste covil

Ai, quem me dera ser Gardel
Tenor e bacharel
Francês e rouxinol
Doutor em champinhom
Garçom em Salvador
E locutor de futebol
Pra te dizer febril
Bem-vinda
Tua beleza é quase um crime
Tu és a bunda mais sublime
Aqui deste covil


ps.: Esta aqui é para as "nossas" mulheres psi...
amigas e companheiras,
amantes ou namoradas,
irmãs de consideração ou professoras no papel,
indepente da relação que temos com elas
elas sempre serão a menina dos nossos olhos
e alegria da nossa semana.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

De CIEN SONETOS DE AMOR

Sabrás que no te amo y que te amo
Puesto que de dos modos es la vida,
La palabra es un ala del silencio,
El fuego tiene una mitad de frío.

Yo te amo para comenzar a amarte,
Para recomenzar el infinito
Y para no dejar de amarte nunca:
Por eso no te amo todavía.

Te amo y no te amo como si tuviera
En mis manos las llaves de la dicha
Y un incierto destino desdichado.

Mi amor tiene dos vidas para amarte.
Por eso te amo cuando no te amo
Y por eso te amo cuando te amo.

(Pablo Neruda)

Tempo

Como se mede o tempo?
O tempo se mede? Pode ser medido?
Em quanto tempo o tempo passa?
Quando ele corre e quando ele tarda?
Um segundo de paz é muito tempo ganho.
Um segundo de tristeza pode ser muito tempo perdido.
Um segundo com quem se odeia é sempre muito.
Um segundo com quem se ama é sempre muito pouco.
O tempo nao é cronológico,
nao passa no relógio,
nao corre ou tarda entre os ponteiros.
O tempo tao pouco é lógico.
Afinal, que lógica ele segue, se sequer faz sentido?
O tempo é sentido.
Nós o damos sentido.
E este depende se ele corre
Ou tarda.