terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Rejuvenescendo...

Não sei direito...
Bateu uma bad hoje.
Me dei conta que não saía de casa desde de sábado.
Nem pra ir à padaria.
Nem nada.
Então me arrumei e fui ao cinema.
Sozinha.
Uma terça-feira encalorada de Fevereiro.
Um dos últimos cinemas de rua do Rio.
Na sessão das 17h20.
Havia somente velhinhos.

(Em Copacabana tem a maior concentração de velhos e cachorros do planeta!)

E fiquei sentada observando os velhinhos.
Era como se o filme já tivesse começado.
Cheguei até a escrever alguma coisa sobre 8 deles.
3 senhores que sentaram formando um triângulo em 4 fileiras.
E14, F12 e H15.
Os três sozinhos.
O mais próximo de mim checava e-mails em seu i-phone da apple.
hehehhe...
Confesso que achei engraçado, ainda que fosse o mais jovem dos três.
Eu mesma não tenho a menor intimidade com essas tecnologias...
Talvez um dos traços da minha própria velhice.
E o mais distante pingava colírio nos olhos.
Provavelmente um astigmatísmo, ou algo do tipo.
Todos os velhos são doentes.
Como eu.

Na mesma fileira que eu, mas na outra metade da platéia,
duas velhinhas cochichavam e abanavam seus leques.
Por mais que ar condicionado estivesse congelando a sala quase vazia.

Mais atrás
Três velhinhas, muito arrumadas
e que falavam alto
Como adolescentes histéricas!
eheheeeh...
E é bem provável que de fato fossem.

Na mesma fileira que eu... uma coroa e sua avó.
Não há muito o que falar das duas.
A avó era mesmo bem velhinha.

E o filme era The Curious Case of Benjamin Button,
que conta a vida de um homem que nasceu velho e foi ficando jovem.
Talvez como eu.
Ao menos é uma esperança crer que posso rejuvenescer.

Tinha tanto de mim no filme que nem sei explicar.
Não exatamente os fatos do decorrer do filme,
mas o sentimento por trás dele.

Chorei tanto que quando acenderam as luzes eu estava com vergonha do meu rosto inchado
e levantei o mais rápido que pude,
sem olhar pra ninguém...
Praticamente fugia em direção à praia,
enquanto pensava se poderia ligar pra alguém que me desse um colo,
ou me animasse,
ou me fizesse pensar em outra coisa que não fosse eu mesma e minhas questões.
Talvez as mais antigas e pesadas delas.
Enfim...
Que me ajudasse a fugir de mim!

Ninguém pra ligar!

Fui chorando pelo calçadão.
Entrei numa rua já perto de casa.
Passei no mercado.
Meu cereal acabou.
As lágrimas também.

E voltei pra casa.
Lá não encontrei conforto algum,
como suspeitei que não encontraria.

Nada.

Ninguém...

Só isso...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Um velho conhecido

Nesta manhã, sentada no sofá, enquanto terminava meu café da manhã, um sentimento sufocante tomou conta de mim. Não podia me mexer, o sentimento me paralizava. E era insuportavelmente familiar.
Me levantei bruscamente, como se assim pudesse expantá-lo. Ele ficou mais forte e trouxe uma dor de cabeça igualmente familiar.
Era uma vida tão jovem, mas recheada de enfermidades. Dores de cabeça e na coluna, enxaquecas, pressão baixa, bronquite, labirintite, enjôos, uma crise renal e, a mais recente, gastrite. Além de um desconforto, uma insatisfação, uma falta que passo a julgar como inerente ao ser humano.
Uma aspirina para a dor.
Ao menos a dor de cabeça melhora, enquanto o desagradável sentimento aumenta.
Um velho conhecido que há muito não me visitava. Fora um amigo, um companheiro, mas há muito já não era mais do que um desconforto.
Pedi que se afastasse de mim há exatos três anos.
Bem verdade que o maldito ainda me visitou algumas vezes ao longo desses anos. Mas ultimamente andava sumido. E esse desaparecimento me permitiu noites de sono e dias de paz. Ok. Nem tanta paz assim. Foi mais uma busca constante. Uma incompletude desnorteada.
Náuseas.
Nenhum copo de água para outro comprimido.
Ai, se houvesse um comprimido... Algo que eu pudesse tomar e dissolver esse sentimento... Não me diga "Eu te avisei!"... Sei que está na ponta da sua língua, entre seus dentes, seguro em um sorriso disfarçado no rosto com sombrancelhas arqueadas. E ao se sentir notado, vai ajeitar os óculos sobre o nariz e o olhar vai se desviar por um segundo, como se assim eu não pudesse ler seus pensamentos.
O que você está pensando?
Agora o meio sorriso saiu dos seus lábios e veio de encontro aos meus.
Esse sentimento que até agora evitei descrever... É tão familiar...
Ele é uma mistura de saudade, dor, desejo, certeza, dúvida, prazer, esperança, raiva, descrença, carinho, desconforto, abrigo, amizade, paixão, impossibilidade, solução... e essa maldita familiaridade!!! Tudo isso nas doses mais variadas.
Ele é tão confuso e tão claro...
Tão desagradável e tão bonito...
Tão incompreensível... Tão meu...
Será tarde demais?
Qual foi a receita que você disse usar para não se apaixonar?
Funciona?
Me ensina...
Esse sentimento combina com os romances mal escritos de banca de jornal... Ele não serve pra vida real! Simplesmente não é prático!
Quando ele se fortalece toma conta de você. Se taorna capaz de lhe paralizar e te empurra em direções arriscadas.
É uma delícia...
É um veneno...
Não me olhe assim...
Prefiro o "Eu te avisei!" de antes.
Ao menos o seu ar de superioridade é sexy...
Isso...
O meio sorriso voltou aos lábios...
Mais uma ajeitada nos óculos sobre o nariz...
Mais um desvio de olhar...
...
Prefiro assim.
Como se pudéssemos controlar.
Como se não soubéssemos o que acontece.
Como se fosse brincadeira.
Como se esse sentimento não me assombrasse.