terça-feira, 10 de junho de 2008

Do chão

















É a abertura de um campo novo, abertura de novas possibilidades o que me alimenta. Alimento-me de vento, de fantasia, amores inexistentes, imaginados, fantasmas, anjos. Todos voam, me cercam, me envolvem num turbilhão, me deixam suspenso, sem base, sem chão e depois me jogam de volta ao chão. Assim que busco de novo o concreto: quando sou jogado a ele. E deitado, o chão parece de novo tão bom, tão aconchegantemente seguro. E o chão que nos segura de cair para sempre é o mesmo que nos puxa pra baixo.

O tempo começa a bater de leve como uma brisa levando do chão seu encanto. O chão, de lugar seguro, passa a ser lugar que segura, o que termina por ser a mesma coisa no fim das contas: o que muda é a (in)disposição de ser segurado. E aí a brisa venta e o vento sopra e o sopro me leva de novo.

De um caderno antigo


“O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo, a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.

Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torna mais leve do que o ar, que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.”

“A Insustentável Leveza do Ser”, Milan Kundera

2 comentários:

Filhos de Ártemis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Filhos de Ártemis disse...

Foto maravilhosa!

Só perde... e de muito pra Sabina de Chapéu côco!