terça-feira, 14 de outubro de 2008

Acaso, espelho vazio do Tempo, desregrado, sem o atroz peso do certo, a espera não te toca, a quimera do atraso não espera. A sombra do agora me bate tanto que me sinto oco, senhora. Nada daquilo é verdade, apenas minha rouquidão. Apenas o biológico é verdade e, no entanto, é a mais pura mentira. É acaso que estou aqui, acaso não saibas. Há casos em que não fui responsável, e lá mesmo a ciranda da existência me surpreendeu com um tapa. Por ser em mim, no entanto, o tapa é meu, não é seu, pertence a mim, como o Tempo, apenas a mim. E o afago que acaso me trazes, como o tapa, também é meu e eu te agradeço, acaso não saibas, Acaso. A pirueta do sentido se enrola com minha língua quando vou explicar-te, quando vou entender-te, e a rubra experiência do abalo vem, lá de fora. É o real que não existe porque não simbolizo nem imagino, mas que Acaso está lá, ah se está. A casa do Tempo é onde habita o momento, essa hora que não acaba e que nunca foi. Ah, tudo é acalantadamente vazio de sentido e direção e o Acaso vem dar destino, sopra a vela e apaga o peso, faz aniversário de infinito e te empurras pro vento. Ele não é de ninguém, por isso é meu e Acaso não saibas, o Acaso é teu.

6 comentários:

Bruno disse...

Texto bom de ler, gosto das tuas piruetas.

Qual a diferença entre acaso e ocaso? Primeiro a falta de sentido. Depois, a falsidade da falta de sentido.

JacqSR disse...

Gosto dos seus abusos de pronomes possessivos...abusando do álcool e escrevendo lindamente...esse é o meu amigo!

Dionísio de Oliveira disse...

é mesmo! pronomes possessivos, não tinha me atentado a isso...

06, O FANFARRÃO disse...

Também vou começar a postar esse tipo de post pseudo-poético e pseudo-intelectual, me aguardem...

JacqSR disse...

para de ciume!rs
seus posts tbm sao lindos fanfa=)

Pigmaleão Inalado disse...

Pelas barbas de Lúcifer, tu és um verdadeiro poeta! Extraordinário. Das várias partes que merecem comentário, só poderei, por força das circunstâncias, comentar um: sobre essa vida biológica, única verdade que no entanto é mentira... Compreendo bem o que é viver nisso. Sinto que é um pouco isso que Drummond quis expressar naquele último verso do poema "Os ombros suportam o mundo", aliás, um dos poemas que mais me marcaram.