segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Instruções, por Neil Gaiman


Toque o portão de madeira na parede que você nunca viu antes.
Diga “por favor” antes de você abrir o trinco,
atravesse,
desça o caminho.
Um diabrete de metal vermelho se pendura da porta da frente
pintada de verde,
como uma aldrava,
não toque nele; ele morderá seus dedos.
Ande pela casa. Não pegue nada. Não coma nada.
No entanto, se alguma criatura dizer-lhe que têm fome,
alimente-a.
Se ela dizer que está suja,
limpe-a.
Se ela chorar dizendo-lhe que dói,
se você puder,
alivie sua dor.


Do jardim dos fundos você poderá ver a floresta selvagem.
O profundo poço pelo qual você passa conduz ao reino do inverno;
há outra terra no fundo dele.
Se você virar aqui,você pode voltar, seguramente;
você não perderá nada. Não vou pensar menos de você.


Uma vez através do jardim você estará na floresta.
As árvores são velhas. Olhos espiam dos arbustos.
Abaixo de um carvalho retorcido senta-se uma anciã. Ela pode pedir alguma coisa;
dê a ela. Ela
irá apontar o caminho para o castelo.
Dentro dele há três princesas.
Não confie na mais jovem. Siga em frente.
Na clareira além do castelo os doze
meses sentam-se ao redor de uma fogueira,
aquecendo seus pés, trocando contos.
Eles podem fazer favores para você, se você for educado.
Você pode colher morangos na geada de Dezembro.


Confie nos lobos, mas não diga a eles onde você esta indo.
O rio pode ser cruzado pela balsa. O balseiro vai levá-lo.
(A resposta à sua pergunta é essa:
Se ele der o remo ao seu passageiro, ele será livre para deixar o barco.
Mas diga-lhe isto de uma distância segura.)


Se uma águia lhe der uma pena, mantenha-a segura.
Lembre-se: que os gigantes dormem ruidosamente; que
bruxas são sempre traídas por seus apetites;
dragões tem um ponto fraco, em algum lugar, sempre;
corações podem ser bem escondidos,
e você os trai com sua língua.
Não tenha ciumes de sua irmã.
Saiba que diamantes e rosas
são tão desconfortáveis quando caem da boca de alguém quanto sapos e rãs:
mais frios, também, e mais afiados, e eles cortam.


Lembre-se de seu nome.
Não perca a esperança – o que você procura será encontrado.
Confie em fantasmas. Confie naqueles que você ajudou para ajuda-lo na vez deles.
Confie em seus sonhos.
Confie em seu coração, e confie em sua história.


Quando você voltar, retorne pelo caminho que você veio.
Favores serão devolvidos, dividas serão pagas.
Não esqueça de seus modos.
Não olhe para trás.
Monte na águia sabia (você não cairá).
Monte no peixe prateado (você não afogará).
Monte no lobo cinzento (segure firme em seu pelo).


Há um verme no centro da torre; por isso que ela não ficara de pé.


Quando você chegar à pequena casa, o lugar onde sua jornada começou,
você irá reconhecê-la, embora ela pareça muito menor do que se lembra.
Ande pelo caminho, e através do portão do jardim que você nunca viu antes mas uma vez.
E então vá para casa. Ou faça uma casa.


Ou descanse.

Um comentário:

Thiago José disse...

Excelente chope.

Muito bons textos =)