domingo, 2 de novembro de 2008

A queda - Albert Camus

"... Não sabia que a liberdade não é uma recompensa, nem uma condecoração que se comemora com champanha. Nem, aliás, um presente, uma caixa de chocolates de dar água na boca. Oh, não, é um encargo, pelo contrário, e uma corrida de fundo, bem solitária, bem extenuante. Nada de champanha, nada deamigos que ergam sua taça, olhando-nos com ternura. Sozinhos numa sala sombria, sozinhos no banco dos réus, perante os juízes, e sozinhos para decidir perante nós mesmos ou perante o julgamento dos outros. No final de toda a liberdade, há uma sentença; eis por que a liberdade é pesada demais, sobretudo quando se sofre de febre, ou nos sentimos mal, ou não amamos ninguém."

(...)

"Então, planando em pensamento por cima de todo este continente que me é subordinado sem saber, bebendo a luz do absinto, que se eleva, ébrio, enfim, de palavras más, sou feliz, estou lhe dizendo, proíbo-o de não acreditar que sou feliz, que morro de felicidade! Ah, sol, praias, e as ilhas sob os alísios, juventude cuja lembrança desespera!"

(...)

"A minha solução, com certeza, não é a ideal. Mas quando não amamos a nossa vida, quando sabemos que é preciso mudá-la, não temos escolha, não é? Que fazer para ser outra pessoa? Impossível. Seria preciso já não sermos ninguém, esquecermo-nos por alguém, uma vez pelo menos. Mas como? Não me confunda muito."

4 comentários:

JacqSR disse...

Mudar por outro alguém não existe, a não ser que a pessoa prove a você que você quer isso, que as mudanças valem a pena, e que mudar para ti não é uma pena, mas sim que você quer que assim seja.

Pigmaleão Inalado disse...

Esse pequeno livro me marcou como nenhum outro. Ajudou-me muito. Compreendi que, enfim, estava perdido para sempre, e que deveria me acomodar nisso. Compreendi que não há mais como voltar atrás.

De qualquer forma... Há uma afinidade extraordinária entre este livro e as aulas de psicoterapia breve.

Lorelei of the sea disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lorelei of the sea disse...

não acho que este livro fale sobre se acomodar... Mas interpretação, assim como gosto, cada um tem a sua...

Quanto as aulas... É... Há uma semelhança. E que provalvelmete é proposital... Afinal, é psicanálise. POde no máximo ser um ato falho...heeheheehhe...